domingo, 16 de setembro de 2007

Sim, mas...?

Ela mantinha um sorriso forçado, mantinha a postura de menina correta. Seus pais a olhavam e esperavam pela coisa tão importante que ela tinha a dizer, mas não esperavam anciosos. Eles nunca estavam anciosos por nada.
O que uma menina de 17 anos tinha de tão importante pra dizer? Que ela não escolheu medicina ou advocacia e sim filosofia pra prestar no vestibular? Ou que não era mais virgem? Para seus pais, antes fosse isso.
Manuela respirou fundo e soltou bem rápido e bem baixo: "eusoulésbica!".
Não era fácil pra uma menina com a personalidade frágil, gorda, feia (na realidade ela não era feia, mas ela se achava e ninguém podia fazer mais nada), sem amigos (ok, ela tinha uma amiga) e que a família não dava a mínina atenção se assumir lésbica. Nem ela mesma sabia porquê estava assumindo, talvez fosse a maior idiotice da sua vida. Bem, foi!
Sua mãe a olhou bem e falou: "É isso? Você é uma aberração, Manuela. Seja o que você quiser, mas não venha perdir nosso apoio!"
O pai calado estava, calado ficou. O irmão Rogério escutou tudo do corredor e saiu praticamente gritando: "Agora você vem com mais essa? Não basta ser gorda, feia, chata, anti social e minha irmã gêmea, agora você é lésbica? Qual mulher vai te querer, monstro?". Rogério foi uma criança frustrada, todos os coleguinhas tiravam sarro da sua cara porque ele era irmão gêmeo da "Balofa", mas felizmente para ele as pessoas conseguiam ver claramente a diferença entre eles. A resposta para isso? Gêmeos de placentas diferentes, quer mais o que?
Manuela foi bastante infeliz na escolha de contar pra sua família, se é que posso chamar aquilo de família, sua opção sexual, mas foi increvelmente forte na hora de responder: "Eu nunca precisei do apoio de vocês e não vou precisar agora. Por sinal, Dona Laila, não sei porque você está me dizendo que não vai me dar apoio, já que por diversas vezes precisei e você não consegue largar a merda da sua vidinha medíocre de mulher rica. Foda-se! É, foi isso mesmo que ouviu, eu mandei você, esse cara que um dia eu tive o desprazer de dividir a mesma barriga com ele e esse cara que usou um pênis pra fazer o belo e a fera se foderem!"
Todos ficaram bastante impressionados com a reação, mas desfizeram todas as caras de espanto e poses tão rápido que pareciam estar desarmando um circo. Saíram da sala e Manuela ficou com a sua cara e todo o resto arrasado, se culpando por ter nascido e mais aquelas coisas que todo depressivo fala.






(Continua...)

2 comentários:

Maria Helena Sobral disse...

Todos precisamos de espaço...mesmo que seja conquistado com percas.
Ela conseguiu o dela...vamos ver como ela vai usá-lo.
Aguardo...
Beijo!

Rafa disse...

"Eu nunca precisei do apoio de vocês e não vou precisar agora. Por sinal, Dona Laila, não sei porque você está me dizendo que não vai me dar apoio, já que por diversas vezes precisei e você não consegue largar a merda da sua vidinha medíocre de mulher rica. Foda-se! É, foi isso mesmo que ouviu, eu mandei você, esse cara que um dia eu tive o desprazer de dividir a mesma barriga com ele e esse cara que usou um pênis pra fazer o belo e a fera se foderem!"

Essa fala dela é sensacional.

A manuela é uma pessoa a se admirar...Arranjou a força na adversidade.E no momento exato conseguiu seu espaço.

beijooo!!!