sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

De Lou à Lou

Faltavam alguns minutos para que eu tivesse realmente que acordar, mas só por teimosia acordei antes e fiquei enrolando na cama. Parecia mais um daqueles dias chatos e intermináveis, a começar pelo dispertador que passou meia hora pra tocar.
Levantei com uma dor de cabeça terrivel que se assemelhava a uma torneira pingando numa placa de metal no meio da noite. Percebeu como era irritante? Pois bem, isso não podia abalar meu fabuloso dia com cara chato e interminável, lavei o rosto e fui até a cozinha procurar algo que não desse trabalho para preparar. Pão com patê e água pareceu favorável.
Comi e fui trocar de roupa, parei em frente ao espelho e comecei a observar o quanto eu estava estranha fisicamente: cabelo meio preso totalmente assanhado, cara superinchada, seios imensos e, por incrível que pareça, eu acordei mais magra. Não se isso se deve ao fato de no trabalho eu só conseguir engolir uma jujuba a cada 2 horas! Um fato alarmante: me achar mais magra, o que me levava a crer que eu tinha acordado psicologicamente estranha também.
Bem, eu tinha exatamente meia hora pra chegar no trabalho e não escutar um "atrasada de novo, hein Lou?" daquela secretária gorda, velha e insuportável. Ok, ela não era nem tão gorda, nem tão velha, mas insuportável sim, é um fato indiscutivel! Troquei de roupa as pressas, escovei os dentes, calcei os sapatos, peguei a bolsa e corri pro elevador. Cheguei na garagem e... DROGA! Carro no conserto. Já estava conformada com o "atrasada de novo, hein Lou?" daquelazinha; parada de ônibus, lá vou eu!
Pelo menos o ônibus colaborou, não estava tão cheio e o motorista parecia também estar atrasado, mas o caminho era longo e o atraso inevitável, bem, eu já estava atrasada. Sentei e "relaxei". Minha cabeça latejava muito, o ônibus balançava muito e de repente eu vi que iria encher muito. Sem estresse, sem estresse, eu já estava sentada mesmo, só havia um lugar que era justamente ao meu lado, acho que aquelas pessoas já sabiam que naquela altura do campeonato só havia dois lugares no ônibus, mas eu estava lá, portanto só havia um! Elas se acotovelavam pra entrar, era deprimente ver aquela cena, algo como "Welcome to the Jungle". Alguém tinha que vencer e adivinhem quem venceu! Não, não foi a insuportável da secretária, foi uma moça interessante, mas a insuportável estava logo atras, o que significaria que ela iria ficar em pé e isso era inexplicavelmente gratificatante, me senti vingada pro resto da vida.
Mas a infeliz não me escapou e eu agradavelmente soltei: "atrasada hein?". Mas ela não se deu por vencida e disse com a cara de bunda mais ridicula do mundo: "atrasada, mas não estou atrasada DE NOVO!". Como alguém pode ser assim como ela? Eu não entendo! Meu inferno astral estava de volta, chegar com ela no trabalho era muito azar, e olhe que eu nem acredito nisso!

As horas não passavam, acho que ela atrasava o relógio com algum controle, era inacreditável como o tempo não passava naquela sala. Pessoas fúteis que só falavam de coisas fúteis e queriam formar adolescentes fúteis. Eu trabalhava numa revista para adolescentes, aquelas revistas que só falam de "como conquistar seu gato", ou "seus cabelos prontos para o verão", ou aqueles testes ridiculos de "será que ele é mesmo afim de você?". Coisas assim me deprimem. Então por que eu continuei lá? Porque eu tinha contas a pagar, era o meu primeiro emprego e eu sabia mentir muito bem(ainda sei).
Depois de 10 horas naquele universo rosa paralelo, minha cabeça doia mil vezes mais, mas a parte boa era o barzinho mais calmo e simpático da região era ali perto.
"Por favor um chá de camomila." O garçom era novato e era também o mais garçom visto lindo... digo, digo, o mais lindo garçom visto. Ele tinha cara de intelectual e que só trabalhava ali para pagar contas, porque era o primeiro emprego e ele sabia mentir bem. Talvez não fosse os mesmos motivos, mas parecia muito. Ele me sorriu e foi buscar meu chá, me trouxe numa xícara cheia de corações e eu ridiculamente comecei a fantasiar mil coisas com aquele cara. Como assim casar? Filhos? sou ridicula! Fui para casa tomar um banho e dormir, mas não consegui dormir, não mesmo. Aqueles cabelos compridos, aqueles olhos puxadinhos escondidos por trás de um óculos de aros pretos, aquele corpo magro, aquele piercing na língua e aquela tatuagem meio a mostra por baixo das mangas... Eu suspirava, tem noção?!
Parecia uma adolescente! Uma adolescente de 20 anos suspirando por um cabeludo tatuado com piercing, com certeza meu avô adoraria conhecê-lo.

No dia seguinte, depois das horas intermináveis, lá estou no barzinho mais calmo e simpático da região novamente só pra ver meu cabeludo e lá estava ele do mesmo jeitinho... "Oi, aqui está o cardápio." *tum tum tum* "Obrigada!". Virgemmariasantíssima, que voz, que jeito, que... puta merda!eu estava apaixonada. Mas nada importava, afinal eu trabalhava quase 9 horas por dia e eu nem gostava do meu trabalho, o que tinha demais me apaixonar pelo homem perfeito? Nada!
"Oi, eu vou querer um chá de camomila por favor."
"Ok. Já venho."
Sorri.
"Aqui está seu chá." e sorriu. Um sorriso lindo!
Passei a acordar mais cedo, sair mais cedo, chegar no trabalho mais cedo (evitando assim os "atrasada de novo, hein Lou?" daquela mosntra), saindo do trabalho mais cedo e indo pro Zen mais cedo, tomando chá mais cedo e saindo mais tarde, claro!
Depois de um mês frequentando o Zen diariamente, até o gerente me conhecia, isso era bom porque o Yuri também me conhecia.
"Oi Lou, vai querer o que hoje?"
"Tá afim de me trazer o que hoje, Yuri?"
"Um chá de camomila, pode ser?"
Nos aproximamos muito e um dia ele perguntou se eu não queria que ele me levasse em casa.
"Olha, eu não tenho moto, nem carro, nem bicicleta, mas pago sua passagem, pode ser?".
Foi assim que eu descobri que eu nunca mais queria ficar sem ele.

Doscobri que ele trabalhava com tattoo e body piercing, mas não tinha dinheiro pra montar um estúdio, por isso trabalhava na Zen, ele tinha 22 anos de idade e tinha uma filhinha de 2 aninhos que se chamava Lou! Eu fiquei boba com isso. A pequena morava com a mãe e visitava ele nos finais de semana e ele se desdobrava pra pagar pensão alimentícia. Foi criado com o pai, a mãe morreu num acidente de carro quando ele tinha 15 anos e o pai morreu quando ele tinha 21 anos, ainda conseguiu ser avô.

Saíamos nos domingos à noite depois que a pequena Lou ia embora, mas éramos só amigos e eu detestava sair com ele, o meu melhor amigo. Quase todas as minhas noites de segunda à sexta eram no Zen, com ou sem chá de camomila. Uma amiga minha, a única creio, sempre dizia que ele gostava de mim, mas era uma questão de tempo. Seis meses.
Ele montou o estúdio e logo depois me pediu em namoro, 5 meses depois ele pediu para que eu me casasse com ele, ou melhor, juntasse os meus trapos aos dele e a minha vida a dele. Passaram 2 anos até que a Kamille, a mãe da filha dele, se matou e a gente pasou a criar a Lou. Ela é uma graça, e passou a me chamar de mãe. É muito estranho ser chamada de mãe aos 23 anos por uma criança que tem o mesmo nome que o seu.
Yuri ganhava bem pacas com o estúdio e eu sai daquela revista para adolescentes cabeça oca e fui para outra bem melhor.

Somos uma família feliz. O Yuri trabalha no que gosta, eu também e a Lou... bem, a Lou quer fazer uma tatuagem aos 13. Decidimos não entrar numa crise familiar agora.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Vago

Vago...
Aqui dentro está vago, companheiro.
Hoje tudo me revolta e pouca coisa me distrais.
Mínimas coisas me encantam.
A lua e as estrelas. Sempre.
Aqui dentro tem espaço.
Tem espaço pra amor, pra emoção, pra aventura.
Sabia que espaços vagos fazem estruturas desmoronarem?
Mas nem por isso deixo de vagar por aí
Nem por isso deixo minhas coisas de lado.
Simplesmente, vago.
Para todos os lados, todas as direções.
Vago.
Está vago.
Estado passageiro e permanente.
Passageiro e motorista.
Vago e está tudo vago, até aqui.
Mas os lados, vagos, não me impedem de continuar...
Vagando em lugares vagos.
Vagando em lugares vagos, entre pessoas vagas e com uma vaga.
Divago...

sábado, 29 de dezembro de 2007

Lixeiro à baixo

Quando eu cheguei em casa, encontrei tuuudo fora do lugar. Não, não parecia que tinham assaltado meu apê, parecia que a Mamãe tinha passado por lá e colocado as coisas no lugar.
As almofadas estavam do lado esquerdo da sala, a TV do lado direito, a mesa estava super centralizada, meu quadros...Bem, eles não estavam mais nas paredes.
A minha cozinha... A minha cozinha brilhava! Mas o que era aquilo, cara? Surpresa do Gugu? Tudo limpo e arrumado. A parte mais assustadora estava por vir: meu quarto.
Banheiro, mudaram algumas coisas.
Corredor, liiiimpo sem nenhum quadro (isso me desesperava meeesmo!)

O meu quarto estava um desastre! Catástrofe mesmo.
Me responda, mas responda rápido: como uma jornalista se sentiria com o seu birô arrumado e sem papéis?
EXATAMENTE!
Fiquei arrasada, estava escrevendo uma matéria, cara, eu passei meses pesquisando e tudo foi pro lixo. Como sei que foi pro lixo? A lixeira estava abarrotada de papéis. "Quem foi a feladaputa que fez isso? Eu vou...ARRRRR"

*choro, muito choro*



Eu tinha posto um namorado pra fora da minha vida há pouco tempo, mas aquele feladaputa não teria coragem de fazer isso.
Nós tivemos algo muito interessante, ele sonhava em casar e ter alguns milhões de filhos de comigo (e pra mim eu tenho cara de coelha). Assumo, ele era um tanto brega e eu ainda não sei como consegui um relacionamento de quase um ano com ele. É um caso a se estudar, porque francamente, mulher nenhuma em perfeito estado namoraria com aquele ser monstruoso, ele não é humano, não pode ser!
Ok, acabei de me notar que eu não estava em perfeito estado.

Mas o que importa é que ele está longe de mim e da minha vida, pelo menos estava até...



...Eu lembrar que eu esqueci as chaves do meu apê no apê dele quando a gente ainda namorava e tenho uma leve sensação que ele copiou as chaves.
Em quase um ano só ele visitou meu apê, só ele sabia como eu gostava das coisas, só ele sabia como me irritar quando entrava no meu quarto: mexendo nos meus papéis!



Liguei pra polícia.
Liguei pra minha mãe e ela me confortou contando algumas piadas que ela havia aprendido com meus tios.
Horas depois chega a polícia e a simpática policial me perguntou:

- O que houve, jovem? (imaginem a voz de uma velha chata)
- Quando eu cheguei meu apê... - E contei toda a história. Sabe o que ela fez? Ela riu de mim e ela reparou algo que eu não havia reparado de jeito nenhum.
- Um bilhete.

Palhaçada, não sei como passei duzentas vezes por ele e não vi.

"Querida Kil, acabei de arruinar sua vida. E isso não é brincadeira! Com amor, Roberto."

Palhaçada²


É, ele conseguiu!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

19.12.07

Minha filosofia é minha, muitas vezes ninguém entende, mas tem lógica, tem a minha lógica. Meus textos "dadaicos", ok! não muito, mas se o sentido é meu, a lógica é minha, também tenho o direito de chamá-lo de dadaico.

Minhas frases gramaticalmente incorretas, mes pensamentos socialmente incorretos, meus sentimentos sentimentalmente incorretos...

Mas como tudo isso é meu, só quem precisa se importar sou eu.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Amor de cinema

Amor...


Me liga bem cedinho e diz que me ama, ou bem tarde pra me lembrar que ama. Me deixa sorrindo à toa o dia inteiro, me beija quando eu menos esperar. Implora pra que eu fique um pouco mais, e faz drama, eu preciso dos teus dramas cinematográficos.


Eu amo tuas cenas carinhosas em câmera lenta, e amo mais ainda quando tu pula as cenas de briga. Quado tu começa a me olhar e dá pause, ou quando tu me diz que pararia a noite pra sempre só pra ficar me fazendo rir como uma boba apaixonada.


O teu amor de cinema me faz sentir num filme alternativo, num filme com cenas e histórias altamente inesperadas.


Quando tu lembra que o que eu fiz pra te conquistar foi algo como Amélie Poulain, e que se eu não o tivesse feito teu albúm jamais estaria completo...


É, eu sei que amores cinematográficos não saem da tela e quando existem acabam tão rápido como a melhor cena de um filme.


Não me importa, não me importa mesmo se o nosso filme não for todas as horas cenas bonitas, o que me importa é o meu e o teu papel nele, que tu não esteja só interpretando o personagem, quero que tu seja o personagem.


sábado, 1 de dezembro de 2007

Joanna

Joanna amanheceu grávida!
Siim, mas não podia ser. Testes e mais testes. Total: 20 testes de farmácia e todos resultaram no que ela nãão queria de jeito nenhum. E agora?
- FODEEU!
Não precisa comentar que Joanna estava em pânico. Mauro não estava preparado pra ser pai. Bem...nem ela, mas ela estava exclusivamente preocupada com ele.
Enquanto isso Mauro estava planejando um churrasquinho com os amigos e amigas, namorada não, eu disse só amigos e amigas. É, para Mauro namorada é só namorada, nada de amiga, amente com certeza, mas amiga não. Assim ele ia ter que chamar Joanna pro churrasco, e não era uma boa idéia.
Ele tinha o costume de não ser fiel. Costume? É, como dizia. "Mas é costume, pô. Não consigo controlar, é costume!"
Todos achavam que Joanna sabia, e ela realmente sabia, mas era comodista, ele era bom partido e essas coisas que meninas de classe média de família falida pensa quando arruma um namoradinho rico. Era melhor aceitar as traições e ficar de fora dos churrascos.

- Alô?
- Luana, me socorre! Vou morrer!
- Quem tá falando, hein?
- Joanna, Luana. Pelamordedeus vem aqui em casa!
- Que foi, menina? Que agonia!
(silêncio)
- Alô? Joanna? JOANNA? Puta merda!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Os Teus

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida".
Eu quero essa sorte, eu quero beijinhos, amor!
Eu quero abraços e ligações inesperadas, beijos inesperados.
Teu amor inesperado, teu carinho, amor.
Tem dias que eu preciso desesperadamente da tua atenção, só um pouco e nada mais.
Tem dias que eu preciso ouvir tua voz e ver teu rosto na TV. Mas eu vejo e ouço, bem distante de mim, e não é o bastante.
Amor? Não! Mantenha a calma, mas usar "amor" torna mais excitante, garanto!
Mesmo não sendo nem um pouco amor, mas eu preciso de tudo isso e não hesito em pedir!
(em pensamento...)
Hesito, hesito sempre que pressinto tua presença, mesmo muitas léguas distante.
E eu sei que vou sempre precisar de beijinhos inesperados, ligações e um milhão de coisas que eu sei que sempre vou precisar. Sei também que essa paixonite não será a última, mas HOJE os beijinhos e carinhos que eu preciso são os teus.