domingo, 14 de outubro de 2007

Chuva e Realidade

Chove. Tá escuro e não pára de chover um só segundo.
Água.
Chuva. Muita chuva.
Meu universo, paralelo à chuva, permanece seco, permanece meu. Permanece tão meu e tão esquecido.
Minha mente liga pontos imaginários, e eu permaneço na chuva na parada de ônibus, sozinha e está escuro.
Rostos totalmente estranhos, malandros se comprimindo contra a parede para não se molhar e eu lá, parada, molhada e sozinha. Talvez com Deus, mas não fisicamente.
Para me sentir menos só, minha mente buscava automáticamente uma imagem. Meu sentimento me secava, mas minha razão, chata como quase sempre, me jogava de volta chuva.
A minha razão falava, falava e eu não entendia. É, mas com o tempo eu procurei entender e ouvi o que realmente não queria. Ela me jogou de volta na chuva e me deu um banho de realidade. Algo como: "Acorda, garota. Não vê que a sua realidade está um tanto distante da dele e a dele da sua?"
É, eu via, mas o que custava eu não ver numa noite chuvosa e eu MOLHADA? Realmente não custava nada. Talvez custasse depois, sairia caro inúmeros quilos de alimentação da minha imaginação fértil. Mas era depois, e o depois naquele momento não me importava, eu tinha certeza que não iria afetar pessoas de fora.
Sentei na calçada e ainda chovia muito. Amanheceu e um homem parou ao me lado e disse rindo: "Passou a noite toda aqui né? Não te disseram que quando passa da meia-noite o ônibus só passa na rua de trás?"
Se eu quis morrer? Quis! Peguei uma gripe infernal, fiquei com sindrome da razão realista e fiquei com muita raiva, mas com tanta raiva que fiquei roxa!
Minha realidade realmente me afastava bastante dele, mas quando ele me deu o seu melhor sorriso... Bem, não preciso comentar mais nada.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O Sonho

Perdoe-me pelo atraso. Tive um sonho que tomou a noite e um pouco do dia. Perdoe-me, por favor!
As nuvens cresciam sobre mim, e gotejavam, seus pedaços fofos...eu os via sentados nos meus ombros, alguns se agarram aos meus cabelos, outros, até me envergonho, se arrastavam aos meus pés.
Elas sorriam e choravam, não entendi o que queria me dizer. Mas elas gargalhavam e logo em seguida berravam, berravam e gargalhavam, gargalhavam e berravam. Foi estupidamente macabro, foi gloriosamente estranho.
Mas perdoe-me pelo atraso.
Elas me olhavam, os pássaros também me olhavam e somente eles podiam. Se alimentavam de olhos, mas não dos meus, de todos os olhos, mas os meus perneceram intactos. Eles cantavam canções infernais e barulhentas. Uma criança me olhou e ficou sem olho, foi assustador.
Todos os olhos, todos os pássaros e todas as nuvens. Todas as pessoas me odiavam e me amavam. Era uma estranha relação de amor e ódio, talvez a mais estranha de todo o universo.
De repente vi formigas carregando olhos azuis e verdes. Castanhos? Não, esses eram usados para outra coisa. E olhos azuis e verdes eram levados para lá e para cá, com formigas de quase cinco centímetros marchando. Penso ter visto a primeira de capacete. Os pedaços fofos de nuvens acomodavam os olhos cegos, os abraçavam.
Os pássaros me beijavam.

Perdoe-me por estar lhe contando tais coisas, mas MEU DEUS ONDE ESTÃO SEUS OLHOS?

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Olhe para trás

Sigo e não olho pra trás.
Sei para onde vou, mas às vezes me falha a memória e eu vago, vago, vago...
Saio pelo quarto, ando pela sala, saio na rua e olhos as árvores, costumo ler placas de carros também. Vago...
Ando por todo canto, às vezes nem saio do canto, ando, simplesmente ando. Você não sabe onde eu ando, ando tanto que me perco também. Eu não olho para trás; quantas vezes já olhei... Já olhei. Acho que não posso dizer que NÃO olho para trás, olho quando sei que vai me dar saudade.
Quando quero voltar...Ah, quando eu quero voltar tento procurar no chão marcas de lágrimas saudosas. Quase nunca encontro, posso dizer que nunca encontro.
Volto por outras ruas, por outros caminhos e acabo por marcar com lágrimas esse lugares também. Demoro a sentir saudade, como demoro, mas sou humana, eu penso em morrer de saudade e penso em morrer quando preciso assumir essa saudade.
Onde minha estrada termina nem mesmo eu sei, mas talvez seja junto com os potes de ouro no final do arco-íris, ou até mesmo na porta da casa de alguém, ou numa cama, ou nos jornais, ou falando para as pessoas me escutarem. Se minha estrada terminar no meio do oceano, ou no meio da mata, ou no meio do mundo. No meio do mundo. Vou estar feliz.
Quando dizem para não olhar, olhe, olhe sempre. Dê a sua última olhada, garanto que marcas de lágrimas no chão não levam de voltam. Se nem as migalhas de pão do João e da Maria deram certo, imagine suas lágrimas no chão. Derrame-as no ombro de alguém, derrame-as em outro canto, mas grave bem a sua última imagem.
Não vá embora sem se despedir. São tristes, mas se seus não lhe levar de volta, as últimas palavras, a última olhada. Isso vale pra sempre. Olhe para trás para coisas que valham a pena unicamente pra você. Pra você.